A História da Amamentação da Marta Rodrigues

Tinha quase 25 anos quando nasceu a nossa primeira filha. Eu era enfermeira há 2 anos, no serviço de Maternidade onde ela nasceu. A amamentação era parte do meu trabalho diário!

Talvez por isso, durante a gravidez, por vezes brincava e dizia à minha filha na barriga: “ai de ti se não mamas, já me vistes ajudar tantos bebés que a lição deve estar aprendida ☺”.

A gravidez decorreu sem problemas, excetuando o desconforto de vómitos e náuseas, e confesso que não pensei muito nem stressei antecipadamente sobre a amamentação. Talvez porque, além da formação/informação científica – embora pouca – que tinha sobre isso, também sou uma pessoa naturalmente confiante na natureza, na funcionalidade e potencialidade do nosso corpo.

A T. nasceu por cesariana – com alguma tristeza minha, porque tinha expectativa de ter um parto vaginal – sob anestesia epidural, com quase 40 semanas de gestação. Logo que saí do bloco operatório as minhas colegas do serviço puseram a minha filha ao meu lado e ajudaram-me a iniciar a amamentação… ajuda que foi tão simplesmente encostar a bebé a mim e ela soube logo o que fazer! Afinal parece que a lição foi aprendida ☺ Naqueles primeiros momentos nem senti que ela começou a mamar porque tive um bloqueio de anestesia bastante superior, mas pude olhar e deliciar-me com tamanho instinto!

Assim como começou também continuou, isto é, fomos para casa e a T. mamava muito bem. Lembro-me que naquela altura – já lá vão 11 anos – ainda havia a ideia de controlar o horário das mamadas e eu também o ia fazendo. Passados uns dias de estar em casa senti um mau estar geral, comecei a ter febre, as mamas duras e uma dor horrível numa delas. Fui ao hospital e fui agraciada com um “então uma enfermeira faz uma mastite?!”. Pois é, a enfermeira que naquele momento era acima de tudo uma mãe, uma mulher no pós-parto pela primeira vez (uma coisa é saber outra coisa é viver!) estava com uma mastite e tinha que fazer antibiótico e sentir na pele o que era essa “possível complicação mamária pós-parto”.

Dar de mamar com a mastite era um suplício, acho que chorava mesmo, mas mais forte que a dor era a minha certeza que devia e queria continuar a amamentar!

As tentativas de retirar leite da mama para aliviar a tensão não corriam bem; eu tinha uma bomba elétrica nova, tentava, tentava e não saía quase nada. No desespero cheguei a telefonar para a empresa da marca da bomba a dizer que não podia ser, que a bomba era nova e não retirava nada! Retirar manualmente era bastante doloroso, mesmo debaixo do chuveiro de água quente. Agora, à distância, sei que me faltava a calma, o relaxamento e o conhecimento e a segurança de experimentar outras alternativas.

Quando a nossa filha tinha aproximadamente 3 meses teve uns dias de bastante irritação, em que chorava muito. Eu continuava a dar-lhe de mamar para tentar que acalmasse. Num desses dias uma familiar minha, que a viu assim chorosa, chegou a dizer “estás a deixar a menina passar fome!” Bem, ouvir assim uma coisa não é nada fácil… O meu marido, que me apoiava desde o início na amamentação, começou também a duvidar e sugeriu experimentarmos dar-lhe leite artificial. A muito custo acabei por aceder e saímos para ir à farmácia. Não quis ir lá eu, qualquer coisa no meu inconsciente me travava de ser eu a ir buscar outro leite, quando o meu corpo devia ter leite para a nossa filha! Fiquei no carro e passado uns minutos chega o meu marido… sem nada nas mãos! Encontrou felizmente uma farmacêutica – até hoje lhe agradeço – que lhe perguntou porque íamos dar o leite, se tínhamos a certeza que era fome, se perguntamos ao pediatra, que podia ser só uma fase,… e que o fez voltar sem ter comprado a lata. No meu íntimo sorri, porque sentia que não era do meu leite, mas acabei por me aperceber que estava numa fase de mais stress (estávamos a preparar o batizado) e que talvez precisasse de acalmar e descansar mais, para ter mais leite e também a T. acalmar.

Essa fase passou e a T. continuou a mamar bem, dormia quase toda a noite e tinha uma ótima evolução ponderal. Mamou até aos 2 anos.

Após a experiência pessoal da amamentação tornei-me mais consciente das dificuldades que podem surgir, da persistência que é preciso ter, mas também cada vez mais interessada e encantada por esta primordial e bela forma de alimentar um filho. Procurei saber mais coisas, formar-me mais, para cada vez melhor aplicar isso no meu trabalho. Assim surgiu o Curso de Conselheira de Aleitamento Materno OMS/Unicef, que fiz em 2007.

Passados 4 anos da primeira filha, tive a H.. Desta vez foi um parto vaginal, como tanto desejei. Escapei por um triz a uma indução; ia sendo vigiada e estava aparentemente tudo bem com a bebé, por isso fui insistindo para esperar que o meu corpo entrasse em trabalho de parto. Após muitas caminhadas, muitas subidas de escadas, a H. quis nascer com quase 42 semanas, no dia limite que nas consultas de gestação de termo me tinham dado para induzir!

Tal como a irmã também pegou muito bem na mama, praticamente logo após nascer.  Com ela já não me preocupava com os horários, já sabia que o melhor era dar-lhe em livre demanda. Além disso, tinha decidido que desta vez ia estar atenta e fazer tudo o que pudesse para evitar que a fase de subida do leite se complicasse, não queria voltar a passar pela dor de uma mastite. Então na fase das mamas estarem duras, a melhor forma que descobri em mim de as esvaziar um pouco, era massajar e retirar leite de uma mama enquanto a H. mamava na outra. E desta forma, sentindo-me mais calma e confiante, o leite saía com bastante facilidade.

A H. deu-me umas noites mais difíceis que a primeira filha; várias vezes acordava e chorava, aparentemente com cólicas, e entre mamadas e massagens assim a tentava acalmar.

Quando ela tinha 1 ano, engravidei da nossa terceira filha, mas decidi continuar a amamentá-la. Entretanto passados aproximadamente 6 meses dessa altura, a nossa filha mais velha teve um problema grave de saúde que exigiu internamento prolongado e acarretou bastante stress e instabilidade na dinâmica familiar, pelo que nesse momento deixei de amamentar a H.

Com um pouco mais de bagagem pessoal e também com mais experiências de formação e de trabalho na área da amamentação, estava cada vez mais encantada com tudo o que a amamentação reunia, apesar das eventuais e possíveis dificuldades: ser uma forma natural de alimentar, uma forma íntima e amorosa entre mãe e filho, perceber que o corpo de uma mãe produz o leite que consegue por si só fazer crescer e desenvolver o filho nos primeiros meses de vida, saber que cientificamente está comprovado que é o melhor alimento para os bebés e por conseguinte comprovados todos os benefícios a curto, médio e longo prazo.

Então, com a terceira filha, queria desfrutar ainda mais e melhor da amamentação!

E assim foi: a A. mamava, mamava, sempre que queria, às vezes com intervalos muito pequenos, mas eu já nem reparava. As experiências anteriores ajudaram a que a minha descontração e confiança fosse maior, e então aproveitei de forma mais “sentimental” digamos assim, o prazer de amamentar, de olhar a A. a mamar, com os olhinhos virados para mim, a colocar as mãozinhas sobre a mama. As nossas outras filhas viam-me a amamentar e eu aproveitava para lhes dizer que elas também mamaram assim, também tiveram o leitinho da mãe e que esse é o melhor leite para os bebés.

A A. mamou até aos 2 anos e ainda hoje, ou por memória ou por tanto lhe contarmos, às vezes olha para mim e diz sorridente “eu tomei do teu leitinho mãe!”

Nas três filhas tive o apoio incondicional do meu marido para amamentá-las, que também ficava encantado de as ver naquele contacto amoroso e nutritivo!

Das três vezes que regressei ao trabalho após as licenças de maternidade, retirava leite com bomba para deixar para elas. Nunca fui de retirar grande quantidade de leite, tinha sempre leite para elas mamarem mas acho que as minhas mamas não eram grandes fãs de bomba.

Sinto-me grata por ter desfrutado da amamentação, sinto-me orgulhosa de o ter conseguido e sinto principalmente que investi na saúde das minhas filhas, para além de uma série de outras vantagens em mim, na família e no ambiente.

Com esta história pessoal de amamentação e com a experiência profissional nessa área, acredito que posso e devo apoiar outras mães a confiar e a desfrutar de tudo o que a amamentação proporciona.

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